O nível da água dos rios que cortam a cidade de Veneza subiu 1,56 metro, marca mais alta dos últimos 22 anos, suficiente para alagar 95% da área da cidade e ameaçar seus destaques arquitetônicos.
A marca havia sido alcançada pela última vez em 1986. O recorde máximo ocorreu em 1966, quando a elevação das águas dos canais que cortam a cidade foi de 1,94 metro.
No início da manhã, a previsão de alta da maré era de 1,40 metro. Pouco depois, foi anunciado que o nível das águas chegaria a 1,60 metro. No fim, o aumento do nível chegou a 1,56 metro às 10h45 (7h45, em Brasília).
Para amanhã, a previsão é de que o nível fique em 1,15 metro acima do normal às 11h45 (8h45, em Brasília). Nos pontos mais altos da cidade, o alagamento foi de apenas alguns centímetros, enquanto que nas regiões mais baixas da cidade, registrou-se uma inundação de até 80 centímetros.
A alta da maré prejudicou, sobretudo, os comerciantes da cidade, que tiveram que salvar sua mercadoria da inundação. A população também foi prejudicada, principalmente por conta da greve do transporte público que coincidiu com o alagamento de Veneza.
Além disso, não foi possível colocar as pontes de madeira que servem como passarela em dias de alta da maré, em locais como a praça da Basílica de San Marco, um dos principais pontos turísticos de Veneza. Isso porque, quando a altura da água ultrapassa 1,20 metro, as passarelas começam a boiar e, sendo levadas pelas águas, tornam-se perigosas.
Alguns voluntários se dispuseram a transportar pessoas que se encontravam nas regiões alagadas até locais secos.
"Chegamos ao limite suportável", declarou a superintendente dos Bens Arquitetônicos de Veneza, Renata Codello, ressaltando os riscos corridos hoje pelos monumentos da cidade.
Codello explica que os locais que mais estiveram expostos ao perigo da alta das águas foram o Arquivo de Estado, a Biblioteca Marciana e o Palazzo Ducale. "O que nos preocupou foi a lentidão com que a maré baixava".
A Biblioteca Nacional Marciana é a mais importante de Veneza e uma das maiores da Itália, pois contém um dos mais preciosos acervos de manuscritos gregos, latins e orientais do mundo.
Outro local que correu riscos foi a cripta da Basília de San Marco, em Veneza, que foi pela água. Um fato incomum, dado que a cripta, depois das últimas restaurações, possui um sistema de proteção contra altas da maré. Contudo, na manhã de hoje a água se infiltrou por uma das janelas superiores.
"A situação não é agradável, mas também não foi como em 1966, quando Veneza foi atingida por uma alta de 1,94 metro", explicou o advogado Giorgio Orsoni, primeiro procurador da Basílica de San Marco.
Na escola Marco Foscarini, um grupo de estudantes está trabalhando para salvar as peças do museu de física "Antonio Maria Traversi".
"Com uma maré de 120 centímetros a sala se alaga, com 130, a água já entra nas vitrines onde estão expostos 225 aparelhos", explicou o diretor do museu, Pierandrea Malfi.
Para evitar estragos maiores, os alunos aceitaram o convite da direção para ajudar a secar e enxugar os instrumentos submersos, o que foi qualificado pelo diretor do instituto, Rocco Fiano, como uma "elogiável iniciativa".
O museu reúne cerca de 460 instrumentos matemáticos, físicos e astronômicos históricos, entre os quais um galvanômetro eletrostático de Leopoldo Nobili, uma bússola do ano 700 e um compasso de proporções de Lusverg do ano 1677.
Por sua vez, o prefeito da cidade, Massimo Cacciari, que ontem pediu aos visitantes que só viessem à cidade em casos "impresciníveis", anunciou hoje que não decretará o estado de calamidade natural.
"Houve uma maré excepcional, a quarta maior do último século, mas causou somente alguns danos, que quantificaremos nos próximos dias. Não houve mortos nem feridos, e nenhum edifício desmoronou, fatos que, se ocorressem, justificariam o estado de calamidade", explicou Cacciari.
O prefeito de Veneza disse ainda que agradeceu ao ministro da Cultura, Sandro Bondi, que "muito gentilmente" cogitou a ajuda da Proteção Civil. "Mas eu lhe respondi que não seria preciso, porque estamos perfeitamente em condições de enfrentar águas altas desta dimensão".
Cacciari também respondeu a quem criticara os especialistas em meteorologia, que não conseguiram prever a alta da maré.
"Se quiserem fazer instrumentalizações inúteis, podem polemizar com qualquer coisa. Eu não tenho tempo a perder com isso. Quem sabe o que fala, sabe também como é difícil fazer uma previsão perfeita", rebateu o prefeito.
O mau tempo predomina em toda a região do Veneto, no noroeste da Itália, com chuvas intensas e ventos fortes em várias cidades, e neve nas regiões de maior altitude.
As abundantes nevascas acompanhadas por fortes ventos que nas últimas 24 horas atingiram o relevo de Veneto alcançaram alturas incomuns para esta época do ano. Nas Dolomitas, a espessura da neve chegou a 1,5 metro, e em Prealpi, chegou a dois metros. Em algumas regiões foi anunciado o nível máximo de alerta para risco de avalanche.
Fonte: Ansa
Leia também outras matérias da nossa revista.
Comentários