A Itália relembra, nesta quarta-feira (14), o primeiro aniversário da queda da ponte Morandi, em Gênova, que deixou 43 mortos, mas a cerimônia se viu ofuscada pela crise política aberta desde a ruptura da coalizão de governo
Na zona onde a tragédia aconteceu, realizou-se uma missa, que começou com a leitura dos nomes das 43 vítimas, na presença de centenas de familiares e também de todos os protagonistas da recente crise que afeta o país.
O presidente Sergio Mattarella, o único que tem competência para dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas; o ministro do Interior, Matteo Salvini, que rompeu com seus sócios e pede desde 8 de agosto novas eleições; seu ex-aliado no governo Luigi Di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema); e o chefe de governo, Giuseppe Conte, assim como vários ministros, participaram da solenidade.
A missa foi oficiada pelo arcebispo de Gênova, o cardeal Angelo Bagnasco, e houve discursos do prefeito, do chefe de governo e de representantes das famílias das vítimas.
Em 14 de agosto de 2018, às 11h36 (6h36 em Brasília), sob uma intensa chuva, uma parte da ponte Morandi desabou, arrastando veículos e passageiros. Ao todo, morreram 43 pessoas, incluindo quatro crianças.
O nome da ponte remete ao arquiteto que criou o projeto, nos anos 1960.
Neste mesmo horário, fez-s hoje um minuto de silêncio, e os sinos nas igrejas da cidade ressoaram, enquanto se ouviam as sirenes do porto.
A cerimônia foi realizada praticamente debaixo de onde caiu a infraestrutura. A algumas dezenas de metros, uma nova ponte está sendo construída. A expectativa é que esteja concluída até a próxima primavera, segundo as autoridades.
“Espero que esta crise do governo não cause atrasos na conclusão desta importante infraestrutura”, disse à AFP Federico Romeo, prefeito da região da tragédia.
A ruptura entre a Liga e o M5E é um fato, mas as eleições antecipadas reivindicadas por Salvini não estão certas. Uma nova maioria entre o M5E e o Partido Democrata pode se formar a partir de uma série de sessões parlamentares previstas para acontecerem a partir de 20 de agosto.
Uma nova ponte
A nova ponte será construída por um consórcio de várias empresas italianas, com base em um projeto de Renzo Piano, o célebre arquiteto genovês, criador, entre outros, do Centro Pompidou de Paris, ou do arranha-céus The Shard, de Londres.
“São três navios que se erguem para o céu e se unem para formar uma estrutura única de mais de um quilômetro de longitude”, explica Piano, nesta quarta, em entrevista publicada no jornal “La Repubblica”.
À espera desta nova ponte, indispensável para cruzar rapidamente esta cidade de mais de 580.000 habitantes, a batalha judicial sobre a estrutura que desabou segue seu curso.
De um lado, está o principal acusado, a empresa Autostrade per l’Italia (ASPI), concessionária do viaduto e propriedade da família Benetton; de outro, as famílias das vítimas e vários políticos (sobretudo do M5E), que consideram que a ponte caiu por falta de manutenção e acusam a ASPI de ter privilegiado seus lucros em detrimento da segurança dos usuários.
Os julgamentos se anunciam complicados: a investigação afeta 71 pessoas, incluindo diretores de empresas do grupo Benetton e autoridades de diferentes governos; mais de 100 advogados; 120 especialistas jurídicos; 75 testemunhas; e toneladas de documentos e de provas físicas.
O caso da ponte foi um dos assuntos que estremeceram as relações entre a Liga e o M5E. Esta última sigla queria encerrar, o quanto antes, todas as concessões nas mãos da ASPI. Recuou, porém, diante das possíveis demandas por indenização que o governo poderia enfrentar, em caso de rompimento de contrato. A Liga, por sua vez, próxima dos círculos industriais do norte, mostrou-se mais prudente.
(com informações da AFP)