O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, e o líder do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), Giuseppe Conte, conversaram por telefone, na quarta-feira (13), para tentar evitar uma crise no governo em meio às ameaças do partido de abandonar a base aliada. A ligação ocorreu após os principais membros do M5S, incluindo Conte, se reunirem para decidir se permanecem na coalizão, e um dia antes de ser votada uma moção de confiança nesta quinta-feira (13).
Segundo Conte, o partido antissistema boicotará a votação no Senado de um pacote de ajudas para combater a inflação no país. “Com as mesmas razões lineares e coerentes do que foi feito na Câmara, amanhã no Senado não participaremos da votação”, declarou ele na comissão de parlamentares do partido.
Nesta semana, o M5S boicotou a votação na Câmara dos Deputados, postura que levantou dúvidas sobre a manutenção da atual aliança. O partido tem sido muito crítico a este decreto e ameaça abster-se novamente, o que poderia abrir uma crise no governo italiano.
“O M5S é a única força política que vem questionando esta crise com grande seriedade, mesmo com soluções há vários meses, e está pressionando o governo em emergências. É a única força que não tem medo de calibrar sua ação política de acordo com a realidade concreta que o país vive”, defendeu.
Conte, no entanto, afirmou que está disponível para dialogar e dar uma contribuição construtiva a este governo e ao premiê italiano, “mas não está disposto, não por arrogância mas por sensibilidade para com as famílias e empresas, a dar uma conta em branco”.
Ele chegou a explicar que durante sua conversa com Draghi, o chefe de governo demonstrou disposição em atender todos os pontos impostos pelo M5S, mas “é claro que na fase que enfrentam não se pode satisfazer com compromissos, são necessárias medidas concretas”.
O partido cobra mais auxílios financeiros para famílias e empresas, a redução da carga tributária e a aprovação do salário mínimo, além da manutenção da renda de cidadania, principal programa social da Itália e que é alvo de críticas em outros partidos da base aliada.
O M5S também questiona algumas medidas tomadas pelo governo, como o envio de armas à Ucrânia, mas ainda precisa lidar com cisões internas, como a saída do ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, figura histórica do movimento, que deixou o partido por discordar da linha de Conte sobre a ajuda militar a Kiev.
Em seu pronunciamento, o líder do M5S explicou ainda que Draghi “anunciou um decreto substancial no final de julho, o que é uma importante junção política” e indiretamente admite o que o seu partido vinha dizendo há algum tempo, que a ajuda alocada não é suficiente.
“A partir de hoje, as famílias e as empresas poderão esperar uma ajuda substancial no final do mês, e isso se deve ao Movimento 5 Estrelas”, enfatizou.
Já em relação ao programa de renda de cidadania, Conte lembrou que, se hoje mais de um milhão de famílias conseguem enfrentar a pobreza, é devido ao programa do M5S, que muitos querem desmantelar, mas que o partido nunca permitirá que seja desmontado.
Nos últimos dias, as diferenças entre o atual e o ex-premiê foram aumentando: primeiro porque o M5S não era a favor de enviar armamento para a Ucrânia, depois pelo fato de Conte acusar Draghi de querer removê-lo da liderança do partido. Agora, os dois divergem da lei contra a inflação.
No entanto, o premiê italiano já deixou claro que não acredita na possibilidade de um governo sem o M5S nem na hipótese de ele encabeçar uma aliança diferente. Draghi lidera um governo de união nacional que vai da esquerda à extrema direita e tem como objetivo guiar a Itália até as eleições legislativas do primeiro semestre do ano que vem.
Dentro da coalizão, tanto o secretário do Partido Democrático (PD), Enrico Letta, quanto os líderes do conservador Força Itália (FI) e da Liga, Silvio Berlusconi e Matteo Salvini, respectivamente, anunciaram que, se o governo cair, irão às eleições.
Em entrevista coletiva, Salvini, inclusive, informou que o partido de extrema-direita não continuará apoiando Draghi caso o M5S deixe a coalizão e ressaltou que as eleições antecipadas são a melhor solução. “Se um partido da coalizão não apoia um decreto do governo é isso, basta, parece claro que devemos ir às eleições”, afirmou.
Vaticano
Na quarta-feria, o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, voltou a falar sobre a guerra na Ucrânia e em referência a ela e aos muitos desafios do momento, destacou a importância da estabilidade do governo italiano.
“Acredito que, no cenário atual, quanto mais estável for um governo, mais ele será capaz de lidar com os muitos desafios que surgem hoje e que são desafios verdadeiramente marcantes que ninguém poderia imaginar”, declarou.
Segundo Parolin, ninguém poderia imaginar que aconteceria uma guerra, mas aconteceu.
Em relação ao perigo de uma crise generalizada, uma crise alimentar ou energética, o secretário de Estado do Vaticano disse que “evidentemente quando há alguém que tem nas mãos as rédeas da situação, apesar de todas as dificuldades que existem, porque ninguém tem a magia varinha, isso certamente facilita”. “Todos devemos trabalhar juntos e não nos dividir”, concluiu. (com dados da Ansa)