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Peça do italiano Dario Fo entra em cartaz em São Paulo

08 de agosto de 2019 - Por Comunità Italiana
Peça do italiano Dario Fo entra em cartaz em São Paulo

No monólogo ‘Francesco’, que estreia nesta quinta (8) no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo, o ator e bailarino Paulo Goulart Filho interpreta 20 personagens para rever trajetória de São Francisco de Assis

“Francesco”, do dramaturgo, escritor e Nobel de Litetarura italiano Dario Fo, é dirigida por Neyde Veneziano e foi uma das últimas peças teatrais de Fo. Além de ter se inspirado em alguns contos populares sobre a vida de Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como Francisco de Assis, o italiano conta alguns dos episódios da vida do santo católico, que viveu no país europeu entre os séculos 12 e 13.   

Francesco

Um lobo aterroriza um pequeno vilarejo e ameaça o trabalho dos pastores. Já tentaram capturar a fera e até mesmo exterminá-la, mas todas as manhãs são encontrados animais mortos pelo campo. O destino do Lobo de Gubbio será transformado quando ele se deparar com Francisco de Assis, frade católico conhecido como santo padroeiro dos animais.

O monólogo dirigido por Neyde Veneziano, que também trata de temas atuais, como o combate à violência, resgata ainda episódios da vida do santo, além do lobo e de outros 18 personagens interpretados por Goulart Filho, e funde-os com a assinatura debochada de Fo. O cenário é uma Itália em conflito. O papado no século 11 tentava ganhar autonomia diante dos domínios do imperador. Manter a unidade da fé católica fazia parte dessa resistência.

Nesse ambiente tenso, o jovem rico chamado Francisco surge como um Arlequim atrapalhado para desafinar esse coro. Famoso por não ter realizado nenhum milagre, Francisco se posicionou contra o militarismo cristão das Cruzadas, foi considerado baderneiro e era visto se socializando com os mais pobres e abraçando porcos pela cidade. “A forma da peça é a de um jogral, em que Dario Fo recupera episódios da vida do santo para provocar o pensamento sobre uma história importante para a Itália”, lembra a diretora.

Conta-se que o rapaz desistiu da vida confortável oferecida pelos pais depois de uma revelação espiritual em uma caverna e decidiu fundar uma irmandade. E a maneira de fazer isso não foi das mais discretas. “Ele entrou na igreja e no meio da missa tirou as roupas e ficou pelado, assim como veio ao mundo”, conta Goulart Filho. O desconforto dos fiéis o lançou para a porta da igreja e entre os marginais convocou seus seguidores.

A partir de então, São Francisco de Assis se torna um líder. Suas caminhadas pela Itália figuram na peça de Dario em episódios divertidos, como a vez em que o santo estava em uma festa de casamento e lhe pediram para narrar uma história divertida. Sua reação foi lembrar a vez em que tinha transformado água em vinho. “Logo a fama de Francisco vai chegar ao papa”, diz Neyde. “É a primeira resistência que ele vai enfrentar.”

O motivo é claro, a voz solene de Paulo Goulart Filho, de 54 anos, durante o ensaio, confirma a preocupação de que a Igreja Católica não tivesse porta-vozes tão… alternativos. A palavra de Deus como mensagem deveria ser entregue por um mensageiro tão digno quanto Ele. “Para Francisco, essa mensagem precisava chegar urgentemente à vida dos mais necessitados. É interessante pensar que Dario Fo, que era ateu, encontrou na história do santo a trajetória de um grande comunicador popular”, ressalta a diretora.

Sua amizade com os pequeninos também se estendeu aos não humanos e tornou-se sua principal marca, até hoje. Em suas caminhadas, Francisco parava para conversar com aves e extrair lições do contato com a natureza. É dele a invenção dos presépios vivos, algo que causou grande confusão na época. Mas na peça, o auge não está com os animais dóceis.

Na história do Lobo de Gubbio, Fo cria a síntese de sua cultura e critica o comportamento selvagem do ser humano ao imaginar o diálogo entre o santo e a fera. Algo que lembra os bichos falantes das novelas do também italiano Luigi Pirandello. Possuídos por uma consciência “humana”, os animais do escritor soltam a língua para questionar os humanos sobre as suas vaidades mais primitivas. 

“Os moradores pedem para que São Francisco os ajude porque o rebanho está sendo dizimado e o santo chama o lobo para conversar”, narra o ator. A seguir, bicho e santo travam diálogo, falam da vida, dos costumes. Em cena, as palavras enroscam no rosto calmo do santo para logo em seguida surgir nas presas do animal revoltado.

O Lobo de Gubbio vai reconhecer que o exemplo é ser tão moderado quando os humanos. Há uma certa ironia nessa moderação. “Ele vai questionar os hábitos dos homens ditos moderados, que quando fazem festa matam e comem animais. O lobo vai dizer então que também quer ser humano”, aponta ainda Neyde. 

“A trajetória de um santo tão popular e querido na Itália continua repercutindo até a atualidade”, continua a diretora. “A confirmação disso é que hoje vemos um papa assumir, de maneira inédita, o legado de São Francisco.”

Serviço

Local – Centro Cultural do Banco do Brasil
rua Álvares Penteado, 112, Sé

Dias e horários – 8 a 31 de agosto;
quinta, sexta, sábado e segunda-feira às 20h;
domingo às 18h

Ingressos – R$ 20

Telefone – (11) 3113-3651 

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.

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