A nova primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, obteve na terça-feira (25) o voto de confiança da Câmara dos Deputados, superando a etapa inicial para seu governo entrar em pleno funcionamento. A líder do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), vencedor das eleições parlamentares de 25 de setembro, alcançou maioria absoluta com 235 votos a favor, graças aos seus parceiros de coalizão, Liga, do ministro de Infraestrutura, Matteo Salvini, e do Força Itália, de Silvio Berlusconi.
Ao todo, 389 dos 400 deputados votaram. A oposição – Partido Democrático (PD), o Movimento 5 Estrelas (M5S) e os centristas Itália Viva e Ação – somou 154 votos contrários, enquanto cinco deputados se abstiveram.
“O governo ganha confiança na Câmara. Agradeço a todas as forças políticas por terem ouvido as orientações programáticas que o Executivo pretende implementar para reavivar a Itália. Amanhã estarei no Senado para mais uma passo importante. O caminho está traçado: vamos em frente”, escreveu Meloni em sua conta no Twitter.
Mais cedo, a primeira premiê mulher da Itália discursou na Câmara dos Deputados e detalhou seu programa de governo para os próximos cinco anos, além de garantir que nunca sentiu “simpatia” pelo fascismo”, afirmando que “liberdade e democracia são elementos distintivos da civilização europeia contemporânea”.
A premiê de 45 anos afirmou que “liberdade e democracia são elementos distintivos da civilização europeia contemporânea”. “Portanto, apesar daquilo que se disse instrumentalmente, nunca tive simpatia ou proximidade em relação a regimes antidemocráticos. Nenhum regime, fascismo incluso”, afirmou a Câmara.
Hoje presidente do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), a premiê já militou na extinta legenda pós-fascista Movimento Social Italiano (MSI) e, quando tinha 19 anos, gravou um vídeo dizendo que “Mussolini foi um bom político” e que “tudo o que ele fez” foi pelo país.
Agora no poder, ressaltou que as leis raciais de 1938, que institucionalizaram a perseguição a judeus na Itália, são o “ponto mais baixo na história italiana, uma vergonha que marcará nosso povo para sempre”.
“Os totalitarismos do século 20 dilaceraram toda a Europa por mais de meio século, em uma sucessão de horrores que investiu grande parte dos Estados europeus. E o horror e os crimes, independentemente de quem os tenha cometido, não merecem qualquer tipo de justificação”, acrescentou.
Meloni ainda prometeu que não vai limitar direitos existentes, em um claro aceno para os que temem restrições ao aborto, prática legalizada no país desde a década de 1970, e que vai combater “quaisquer formas de racismo, antissemitismo, violência política e discriminação”.
Além disso, admitiu sentir sobre si o “peso” de ser a primeira mulher premiê da Itália e garantiu que pretende governar por cinco anos ininterruptos, o que seria algo inédito na história do país.
A primeira-ministra também afirmou que não quer “sabotar” a União Europeia, apenas torná-la mais “eficaz”, garantiu que manterá o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia e defendeu a aprovação do presidencialismo, ideia que encontra forte resistência na oposição.
Meloni ainda prometeu instituir medidas de incentivo à natalidade para impedir um inverno demográfico na Itália e enfrentar o “câncer mafioso de cabeça erguida”.
Sobre a crise migratória no Mediterrâneo, recuou da proposta de impor um bloqueio naval para impedir a chegada de deslocados internacionais na costa italiana e apontou a importância de “remover as causas que levam os migrantes a abandonar a própria terra para buscar uma vida melhor na Europa”.
“Não pretendemos colocar em discussão o direito de asilo para quem foge de guerras e perseguições. Tudo o que queremos fazer é impedir que os coiotes escolham quem vai entrar na Itália”, disse.
Agora, Meloni, que prestou juramento no último sábado diante do presidente da Itália, Sergio Mattarella, será submetida ao voto de confiança no Senado, nesta quarta-feira (26), a partir das 13h (horário local)