A “MAD, moto arte design” revela como projetistas apostaram em idéias revolucionárias ao longo dos anos, construindo motos futuristas mesmo para os padrões de hoje. A ousadia trazia desafios devido à falta de tecnologia para prever como seria o desempenho das máquinas.
“Naquela época não existia o túnel do vento, o computador para realizar simulações. Tudo era muito mais difícil. O desenho, mesmo bem feito, nem sempre funcionava no campo, no mercado. O resultado é que muitas fábricas fechavam as portas”, explicou à BBC Brasil Giovanni Cabassi, organizador da mostra e colecionador de motocicletas.
Durante oito meses, Cabassi realizou uma busca minuciosa para encontrar as motocicletas ideais para a exposição. Elas acabaram vindo de dez colecionadores, quase todos moradores de Milão, Itália.
“Não foi fácil convencer os donos. Quem cultiva esta paixão normalmente é discreto”, afirmou ele.
Competição e estrada
Os modelos expostos, de competição e de estrada, custam entre 50 mil e 150 mil euros (entre R$ 126 mil e R$ 380 mil) e foram fabricados na Itália, Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Nova Zelândia e Japão.
Entre os modelos em exposição, está a Aeracchi Chimera-250, fabricada por uma empresa com experiência na construção de aviões.
Ela apresenta linhas arrojadas e elegantes, inspiradas na aeronáutica, mas o estilo não agradou os compradores. Entre 1956 e 1961, foram produzidos apenas 300 modelos.
Mas mesmo motos que não tiveram sucesso no campo comercial acabaram sendo reconhecidas por seu valor inovador.
A Motom T-98, desenhada por Piero Remor, entrou em produção em 1955 e saiu de linha em 1960. Mesmo assim, não demorou muito para ganhar um lugar de destaque no Museu de Arte Moderna de Nova York, o Moma.
Cinema
Dez exemplares da moto inglesa Vincent HRD Black Knight-1000, outro destaque da exposição, foram parar nas telas do cinema. Em 1955, ano de fabricação da moto, filmava-se a primeira versão do livro 1984, do escritor George Orwell.
Os produtores não pensaram duas vezes antes de usar a Black Knight como a moto da polícia do futuro, quase 40 anos mais tarde.
“Esta moto foi pensada para proteger melhor o piloto da chuva, constante em Londres. Mas ela não fez muito sucesso. Os clientes preferiram a versão nua”, disse Giovani Cabassi.
Já sucesso no cinema e nas ruas foi a mítica Harley-Davidson, guiada por Dennis Hopper e Peter Fonda, no clássico dos anos 60 Sem Destino. O modelo FX Super Glide "Boat Tail" 1200, derivado do filme, pode ser admirado de perto.
Os visitantes da exposição podem ainda ver a curvilínea Aprilia Motò, desenhada pelo renomado designer francês Philippe Starck.
Evolução
A MAD mostra ainda a evolução das matérias-primas usadas na criação de uma motocicleta.
Aço, ligas de alumínio cada vez mais leves e a fibra de carbono no lugar daquela de vidro fazem parte de uma lista de evolução permanente. Da primeira moto exposta, a Sunbean S7-500, de 1947, até a CR&Vun-650, de 2007, o percurso não deixa de ter como fio condutor o design no qual despontam marcas como a Guzzi, Gilera, Augusta, Norton, Triumph, Buell, AJS, BMW, Honda, Suzuki, Yamaha, Kawasaki, Paton, Ducati, Bimota e Britten, nascida na garagem do lendário projetista neozelandês John Britten.
“As pessoas, motociclistas ou não, conhecem muitas dessas motos apenas dos livros. Com a exposição, elas podem ver modelos genuínos, originais. Todos eles funcionam”, conta o curador.
A exposição em Milão vai até o dia 18 de novembro.