Medida é tema de divergências dentro da base aliada
A proposta para legalizar cerca de 600 mil imigrantes em situação irregular na Itália ameaça abrir uma nova crise no governo, formado por uma coalizão de partidos historicamente rivais e que se uniram apenas para evitar eleições antecipadas.
A ideia foi lançada em meados de abril pela ministra da Agricultura, Teresa Bellanova, como uma forma de estimular a economia italiana e combater o trabalho informal, e agora seu partido, o centrista Itália Viva (IV), do ex-premiê Matteo Renzi, pressiona pela inclusão da proposta em um decreto que será discutido pelo governo nesta semana.
“Não é uma batalha instrumental para ganhar votos. Essas pessoas não votam. Se não passar, será um motivo de reflexão sobre minha permanência no governo”, disse Bellanova, uma ex-sindicalista que é a principal representante de Renzi na base aliada.
A medida também conta com o apoio do Partido Democrático (PD) e da coalizão Livres e Iguais (LeU), ambos de centro-esquerda, e tem o aval da ministra do Interior, a advogada independente Luciana Lamorgese. Falta, no entanto, o “sim” do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), dono da maior bancada no Parlamento e antigo adversário do PD e de Renzi.
“A hipótese de uma anistia no campo diz respeito à possibilidade de conceder permissões de estadia temporárias para imigrantes irregulares, mas isso não ajuda a revelar o trabalho clandestino. Pelo contrário, o faz aumentar. Não aceito as permissões de estadia temporárias”, disse nesta quarta-feira (6) o líder político do M5S, Vito Crimi, à Radio 24.
O projeto também enfrentará oposição no Parlamento, capitaneada pelo senador e ex-ministro do Interior Matteo Salvini, que, em seu período no governo, promoveu uma deriva antimigrantes na Itália. “Com todas as dificuldades que temos, de trabalho, de poupança, o governo trabalha em uma anistia para imigrantes clandestinos”, disse o secretário da Liga, de extrema direita.
“Vamos impedi-la de todas as maneiras, dentro e fora do Parlamento”, prometeu.
Proposta
Em artigo publicado em abril, Bellanova afirmou que a regularização permitiria enfrentar a “urgência da falta de mão de obra na agricultura”, que coloca em risco produtores, postos de trabalho, investimentos e a própria cadeia do setor alimentício.
Segundo a ministra, isso também ajudaria a evitar uma “emergência humanitária” nos “assentamentos informais superlotados de pessoas que não trabalham ou o fazem na invisibilidade total”. “Estão sob risco da fome, abandonadas a si mesmas e à mercê da ameaça do vírus”, escreveu.
Bellanova também ressaltou que não exclui a utilização de mão de obra italiana no campo, mas disse que existe uma carência de 350 mil trabalhadores no setor, uma vez que a maior parte dos 400 mil estrangeiros que atuam regularmente nas colheitas não irá ao país neste ano por causa da pandemia de coronavírus. (Época Negócios)