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Mil e uma conquistas

13 de março de 2008 - Por Comunità Italiana
{mosimage}Ele já ganhou 49 Leões no Festival de Cannes e foi considerado o publicitário do século 20 pela Associação Latino-Americana de Agências de Publicidade. Mas o prêmio que Washington Olivetto, de 56 anos, mais celebra é a própria vida. Em 2001, ele foi seqüestrado e mantido em cativeiro por 53 dias. Para esse paulistano ítalo-brasileiro, pai de três filhos, o caso é uma página virada em sua história. Dono de uma das maiores agências de publicidade do Brasil, Olivetto é o criador das mais célebres campanhas de publicidade do país, como a do garoto Bombril, no ar desde 1978. Neste mês de março, quando a Comunità completa 14 anos, a revista não poderia ganhar melhor presente do que essa declaração do publicitário: — O slogan da Comunità Italiana, “A sua revista ítalo-brasileira”, traduz a minha relação com ela: é a minha revista ítalo-brasileira.
 
 

ComunitàItaliana – Como descobriu que queria ser publicitário?
Washinton Olivetto – Aprendi a ler muito cedo, aos cinco anos de idade e, por conseqüência, a escrever. No início da adolescência, eu queria escrever. Para os jornais, para as revistas, para a TV, para todas as mídias. Por outro lado, tinha enorme admiração pelo trabalho do meu pai, que era um grande vendedor. Um pouco antes dos 15 anos de idade, racionalizei, meio sem querer, que a atividade que misturava o gesto de escrever com o de vender era a de criador de publicidade. E, assim, decidi o que pretendia ser.

CI – O senhor não terminou de cursar as faculdades [Comunicações e Psicologia] e hoje tem um histórico profissional invejável. A faculdade não é necessária?
WO –
Não vejo mérito em não ter terminado as faculdades que cursava e sempre deixei isso bem claro, como, particularmente, quando fui eleito Doutor Honoris Causa em Comunicação. O que ocorreu comigo foi um fato atípico. Comecei a estagiar numa agência de publicidade aos 18 anos de idade, exatamente quando estava iniciando duas faculdades: uma de manhã e outra à noite. Fiquei fascinado pelo estágio, acabei contratado no segundo mês, e me dediquei loucamente ao trabalho e, assim, abandonei as faculdades. Porém, estudar sempre é bom. Principalmente se você se preocupar mais com o conhecimento do que com o diploma.

CI – A W/Brasil já teve filiais no exterior. Há projetos de uma W/Itália?
WO –
Chegamos à conclusão de que, no mundo de hoje, inteiramente globalizado e interligado pela informática, a presença física não é fundamental. Hoje trabalhamos com acordos locais, o que é extremamente válido para qualquer país e perfeito para a Itália, onde, além de tudo, possuímos grandes amigos na comunidade publicitária.

CI – A W/Brasil já recebeu inúmeros prêmios. Qual é a receita de tanto sucesso?
WO –
Algum talento, alguma sorte e muito trabalho. Uma equipe unida, que fuja da competição interna, e mantenha sempre a consciência de que é melhor ser co-autor de muitos trabalhos brilhantes do que autor solitário de algo medíocre.

CI – Prêmio é fundamental?
WO –
Não. Obviamente, eles exercem maior fascínio nos profissionais iniciantes. E ajudam esses profissionais a obter seus primeiros reconhecimentos. Depois, todo e qualquer profissional já seguro deve manter a consciência de que, na verdade, a grande e mais meritória função dos prêmios é documentar — e produzir — a memória da atividade.

CI – É verdade que o senhor mandou colocar um busto seu na agência?
WO – Não. O tal busto era um deboche com os bustos levados a sério. Não uma vaidade, mas uma crítica a esse tipo de vaidade. Minha vaidade, na verdade, é extremamente bem administrada: exijo que me levem a sério, mas não me levo a sério — e tenho enorme capacidade de rir de mim mesmo.

CI – O senhor se tornou uma pessoa mais preocupada com a questão da segurança, depois do seqüestro? WO –
Sim. Lamentavelmente, sou obrigado a andar com seguranças. Não é agradável. Representa uma enorme perda de liberdade individual. Mas obedeço às recomendações que recebi depois do ocorrido. No mais, faço qualquer programa, dos mais populares aos mais elitizados, com o maior prazer. Faz parte da minha personalidade. Obviamente, tenho uma liberdade individual muito maior e mais prazerosa quando viajo.

CI – De que forma o senhor vê a vida hoje depois de ter passado por isso?
WO – Encerrei o episódio assim que ele acabou. Foi a maneira que encontrei para manter minha saúde mental e tocar a vida pra frente.

CI – A sua ascendência italiana é por parte de pai ou mãe? De que região? WO – Olivetto por parte de pai, da Ligúria, em Santa Margherita, ao lado de Portofino, que eu adoro. E  Santorso por parte de mãe e que está espalhado por toda Itália.

CI – Costuma ir à Itália? Fala o idioma?
WO –
Praticamente todos os anos, com o mesmo encantamento da primeira vez, mas falo mal o italiano. Aliás, costumo dizer que falo perfeitamente mal várias línguas: inglês, espanhol, francês e, obviamente, italiano. Sou até relativamente fluente em todas elas, mas, como a maioria, aprendi falando e trabalhando. Muitas vezes cometo erros que, para mim, são constrangedores.

CI – Que relação o senhor tem com o país e com a cultura?
WO –
Sou um dos seis milhões de paulistanos italianos, entre oriundi e descendentes. Minha relação é intensa com a arquitetura, o cinema, o design, a música e o povo em geral, pelo qual sou fascinado. Gosto de tudo na gastronomia. Da mais sofisticada, à mais popular. Me delicio igualmente com um polpettone ou com um risoto contadino.

CI – Que lugar da Itália chama mais a sua atenção?
WO –
Muitos. Me encanto particularmente com Portofino, que visito sempre que posso; Roma, com sua alegria permanente; Milão, com seu cosmopolitismo, e Siena,com sua praça sem a perspectiva euclidiana. Gosto de outros lugares também, como Bolonha, uma das cidades mais encantadoramente solidárias do mundo.

CI – Herdamos algo da publicidade italiana? E vice-versa?

WO – Herdamos muito da arte italiana, seja na música, na pintura, no cinema, na literatura e no design. Por outro lado, a partir dos anos 80, nós passamos a influenciá- los fortemente na publicidade. Particularmente, na mídia eletrônica.

CI – Temos, aqui, cerca de 30 milhões de ítalo-brasileiros. Como o senhor analisa esse público como mercado consumidor?
WO – Um mercado consumidor que se transformou em próspero consumidor trabalhando arduamente e que, por isso mesmo, é cada vez mais crítico, consciente dos seus direitos e, por causa disso, precisa ser extremamente respeitado pela publicidade — se ela pretender ser verdadeiramente efetiva.

CI – O poder de compra do italiano diminuiu depois da entrada do euro. Como o senhor analisa o mercado consumidor da Itália, do ponto de vista econômico?
WO – Não tenho essa sensação de diminuição do poder de compra do italiano com a entrada do euro, mas a minha análise é certamente superficial, já que não participo do dia-a-dia do cidadão italiano. Só convivo com meus amigos que moram na Itália em situações turísticas e, conseqüentemente, privilegiadas.

CI – Os dias 13 e 14 de abril serão de eleições na Itália e cidadãos italianos no Brasil também podem votar. O senhor vai votar?
WO – Ainda não sei. Talvez esteja fazendo uma palestra em Berlim, na época.

CI – Como o senhor vê essa crise  na política italiana? WO – A crise política não é só italiana, é mundial. Ela se acentua e muda de endereço ciclicamente, mas se repete.

CI – O que o senhor acha da ComunitàItaliana?
WO – O slogan da Comunità Italiana, “A sua revista ítalo-brasileira”, traduz a minha relaçãocom ela: é a minha revista ítalobrasileira.

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.

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