O autor de uma "lista negra" de 162 acadêmicos supostamente membros de um "lobby judeu" no ambiente universitário italiano, difundida em um blog na internet, foi identificado pela Polícia e acusado de difamação, violação da privacidade e apologia ao racismo, segundo fontes judiciais.
De acordo com a investigação, o responsável pela lista de professores — que causou uma reviravolta considerável na Itália, após ter sido denunciada por representantes da comunidade judia — é Paolo Munzi, de 40 anos e morador de Rieti, no centro do país.
Filho de um ex-prefeito do Partido Radical, Munzi já havia se envolvido em um episódio polêmico no ano passado, ao defender a visita do historiador francês Robert Faurisson — um dos maiores contestadores do holocausto judeu — à Universidade de Teramo. Já naquele momento, Munzi denunciava os "poderes fortes que controlam o sistema político".
A polêmica ganhou novos ares após o anúncio de que a Feira do Livro de Turim (no norte da Itália), marcada para 8 de maio, teria a nação de Israel como convidada de honra — decisão reafirmada pelo presidente Giorgio Napolitano. A notícia provocou algumas tentativas de boicote sobre o setor acadêmico judeu na Itália, de onde teria surgido a lista de Paolo Munzi e sua acusação de que um lobby judeu estaria manipulando fatos e consciências sistematicamente no país.
Após a queixa de um dos professores da lista divulgada na internet, os promotores Franco Ionta e Giuseppe Corasaniti levaram o caso adiante, inscrevendo-o oficialmente na lista de investigações da Procuradoria de Roma.
Eles avaliam que ainda não se pode configurar o fato como apologia ao racismo ou preconceito religioso. Contudo, ambos estão convencidos de que o documento encontrado no fórum virtual "Il Cannocchiale", sob a assinatura do usuário anônimo H5N1, é discriminatório em relação aos professores judeus. Nesse sentido, portanto, foram formuladas acusações de "ação para fins de discriminação" racial, considerada crime pela lei Mancino.
O autor do blog também aparece entre os signatários de um manifesto favorável a Robert Faurisson, ainda durante o episódio de sua visita à Teramo. Evocando o direito à liberdade de se manifestar dentro de uma nação democrática, o documento nega diversos aspectos do genocídio sofrido pelo povo judeu e critica o "linchamento público" que o historiador francês recebeu pela comunidade judaica durante sua estadia na Itália. O manifesto pode ser visto no fórum virtual de endereço politicaonline.net.
Enquanto a justiça formaliza as hipóteses de crime, no âmbito político o tom da polêmica cresce, principalmente com as declarações do vice-presidente da Comissão Européia, Franco Frattini, que denuncia a "falta de uma clara reação do governo italiano" e critica a "resposta somente administrativa" ao episódio.
Segundo Frattini, a tentativa de boicote de Israel na Feira do Livro de Turim e a lista negra "são dois episódios que, infelizmente, não representam somente um delírio repentino da Itália civil".
Já o prefeito de Forano, Paolo Diociaiuti (PD), se disse surpreso com o fato, enquanto os Maçônicos do Grande Oriente da Itália exprimiram "indignação". Por fim, um dos docentes judeus incluídos na lista, Sebastiano Maffettone, propôs uma ação pragmática: instituir o ensinamento da questão Israel-Palestina.
Fonte: Ansa
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