A descoberta, que ainda precisa de mais testes, abre novas possibilidades sobre o nível de contágio do novo coronavírus e sobre o uso de novos medicamento
Dois estudos do Instituto Italiano de Tecnologia (IIT) descobriram que o novo coronavírus (Sars-CoV-2) tem uma segunda via de entrada nas células do corpo humano, além da conhecida Ace2: o receptor de ácido siálico, presente nos tecidos das vias aéreas altas.
O receptor é usado também por outro vírus, o Mers-CoV, que causa a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, que também provocou uma epidemia em 2012. Segundo as pesquisas, depois que o Sars-CoV-2 entra no organismo para reproduzir-se, ele usa diversas proteínas, entre as quais, algumas comuns do vírus da imunodeficiência humana (HIV).
A descoberta feita pelos estudos, que ainda precisam de mais testes para serem confirmados pela comunidade científica, abre novas possibilidades sobre o nível de contágio do novo coronavírus e sobre o uso de novos medicamentos. “Nós desenvolvemos um novo modelo preditivo para entender como as proteínas na superfície do vírus interagem com os receptores humanos”, explica o diretor do IIT, Giancarlo Ruocco.
No primeiro estudo, feito na capital italiana com o apoio da Universidade Sapienza, os pesquisadores analisaram as interações da proteína Spike, com a qual o vírus conecta o receptor Ace2 (o mesmo usado como alvo pelos medicamentos da família sartan e anti-hipertensivos), e confrontaram a sua capacidade de permanecer conectado. Com surpresa, os estudiosos viram que essa capacidade era muito inferior àquela do vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars). Por isso, tiveram a ideia de buscar um segundo receptor envolvido.
“Assim, nós descobrimos que para entrar na célula, o vírus Sars-CoV-2 também usa o ácido siálico, presente nas vias respiratórias, e usado pelo vírus Mers”, diz ainda Ruocco.
Conforme o pesquisador, agora é preciso entender se a diferente mortalidade e infecciosidade da Covid-19 depende desses dois caminhos de entrada. “Isso poderá esclarecer porque há tantos casos assintomáticos, mas essa é só uma hipótese que deve ser confirmada, assim como os resultados do estudo”, esclarece ainda o italiano.
Já a outra pesquisa, coordenada pelo diretor do IIT de Gênova, Gian Gaetano, descobriu que parte da proteína Spike que interage com o receptor do ácido siálico muda muito entre as várias cepas de vírus, o que poderia explicar as grandes diferenças de comportamento da doença observadas nas diversas populações.
Também analisou como o vírus age quando entra na célula e começa a se reproduzir.
“Nós vimos assim que, além de se servir de algumas proteínas já conhecidas e comuns em outros vírus, que ele pega algumas outras específicas. Nessas últimas, uma dezena são compartilhadas com o vírus do HIV”, precisa Tartaglia.
A sugestão dos pesquisadores é “tentar usar, entre os antivirais desenvolvidos nos últimos anos contra o HIV, aqueles que agem de maneira pontual em cima dessas proteínas. Também nesse caso, os dados precisam ser confirmados, e esperamos que a nossa publicação chegue aos termos científicos e que receba comentários úteis para compreensão”, finaliza. (Ansa)