Entenda o que pode acontecer na Itália com a renúncia do primeiro-ministro

O premiê Giuseppe Conte deixou o cargo na terça-feira (20); veja quais são os próximos passos até que o país tenha um novo líder
O agora ex-primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, renunciou ao cargo na terça-feira (20), depois de acusar o ministro de Interior do país, Matteo Salvini, de colocar seu partido, a Liga, antes das necessidades da Itália.
Cabe agora ao presidente, Sergio Mattarella, tentar encontrar uma solução para a crise política. Veja o que pode acontecer até que o país tenha um novo líder:
O governo entrou em colapso?

Não exatamente. Mattarella disse a Conte para continuar a cuidar dos negócios de rotina até que uma solução seja encontrada. Durante esse período, Conte pode nomear o candidato italiano para a nova Comissão Europeia.
Salvini, que não retirou seus ministros, disse na terça-feira (20) que está pronto para manter o governo vivo para aprovar um orçamento para 2020, que tem como foco o corte de impostos. Mas especialistas em constituição dizem que aprovar orçamentos está fora dos poderes de um governo interino, então isso é altamente improvável.
Os ataques de Conte a Salvini no Parlamento provavelmente já acabaram com a atual coalizão, mas, em teoria, Mattarella poderia enviar Conte de volta ao Parlamento para tentar consertar as relações com a Liga.
Como poderia ser uma nova coalizão?

A combinação mais provável seria uma união entre o Movimento 5 Estrelas, que é anti-establishment, e o Partido Democrático (PD), que é de centro-esquerda e de oposição. Os dois partidos já iniciaram negociações preliminares e espera-se que o PD dê um mandato a seu líder, Nicola Zingaretti, para explorar a possibilidade de formar um novo governo.
Teoricamente, o Movimento 5 Estrelas e o Partido Democrático poderiam reunir apenas uma maioria de um assento no Senado (câmara alta do Parlamento), e, assim, precisariam da ajuda de grupos parlamentares menores ou de senadores vitalícios para garantir a estabilidade. Um pequeno partido de esquerda, o LEU, já disse que forneceria apoio.

No entanto, um casamento do 5 Estrelas e do PD não será fácil; os partidos há muito são adversários amargos e têm inúmeras diferenças políticas. Além disso, a liderança de Zingaretti é enfraquecida pela rivalidade interna vinda do ex-primeiro ministro Matteo Renzi, que ainda controla muitos dos legisladores do partido – e isso poderia complicar ainda mais as conversas com o 5 Estrelas.
Se o 5 Estrelas e o Partido Democrático não se conectarem, o presidente poderia buscar amplo apoio parlamentar para um governo de tecnocratas, para aprovar o orçamento de 2020 e realizar eleições na primavera.
Conte poderia liderar um novo governo?

Sim. Advogado sem afiliação política, Conte foi considerado uma voz da razão na coalizão Movimento 5 Estrelas + Liga e tem boas relações com Mattarella. Poderia ter uma segunda chance, especialmente porque o Parlamento não aprovou um voto de desconfiança nele.
No entanto, é considerado próximo do Movimento 5 Estrelas – o que significa que o Partido Democrático pode temer sua crescente popularidade e vetar seu retorno.
A Itália terá eleições antecipadas? Quando?

Depende. Apenas o presidente, Sergio Mattarella, tem poder de dissolver o Parlamento. Ele só chamará um voto se achar que é impossível forjar uma nova coalizão, e vai consultar os presidentes das duas casas do Parlamento – e todos os líderes dos principais partidos – antes de tomar uma decisão.
Quando as novas eleições seriam realizadas dependeria de quanto tempo seria necessário para explorar todas as opções. Matarella deve começar as reuniões nesta quarta (21) e terminá-las na quinta (22). Ele já deixou claro que quer um governo para aprovar no outono o orçamento para 2020 – o que significa que as eleições devem ser realizadas até o final de outubro ou apenas no próximo ano.
A Itália não faz eleições no outono desde a Segunda Guerra Mundial.
Como seria o resultado de uma nova eleição?

Desde a eleição nacional do ano passado, quando o 5 Estrelas conquistou a maior parte dos votos, a Liga dobrou de popularidade, segundo pesquisas de opinião. Agora, comanda de 34% a 39% dos votos, dizem as pesquisas, sugerindo que o grupo poderia facilmente sair do pleito como o maior partido.
Se a Liga perder a maioria absoluta dos assentos, Salvini poderia convocar dois antigos aliados de centro-direita – Forza Italia, do ex-premier Silvio Berlusconi, e Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália) – para formar um novo governo.
(com informações da Reuters e do G1)